Ella Faith fala sobre “Incondicional: algemas”, seu primeiro livro pela Vírtua
Em um romance erótico embalado por uma trama cheia de suspense e ação, escritora estreia na marca com uma leitura que vai prender os leitores. Confira entrevista com a autora
Por Rafael Augusto Machado, jornalista
A referência do subtítulo à palavra algemas constante no título do livro é inevitável quando falamos de “Incondicional: algemas” (Editora Vírtua, 400 pg, R$ 40). O primeiro livro da caxiense Ella Faith lançado com a Vírtua é daqueles que faz o editor ser grato pelo seu trabalho, pois trata-se de um romance muito bem escrito, construído sob uma estrutura que prende o leitor à história, queira ele ou não.
Uma leitura para adultos não só pelo conteúdo erótico, mas também pela liberdade da qual a jovem escritora usou e abusou nas 400 páginas do livro, mergulhando em tabus sociais, mexendo nas entranhas de grandes corporações e da polícia. Um texto direto, como que saindo de alguma realidade e indo parar direto no papel, sem medir palavras. Tudo envolvido em uma dinâmica muito bem construída, de forma que, quando o leitor pensa que a história caminha para determinado rumo, algo acontece, alguém aparece, uma nova lembrança surge na cabeça da jovem Audrey, personagem principal, e tudo muda drasticamente.
Audrey, Bruce e mundos diferentes que se encontram
A trama está centrada na jovem Audrey, uma garota linda que, no auge da transição da adolescência para a avida adulta, em um momento em que curtia os amigos e sua banda de rock, vê seu mundo virar de cabeça para baixo. O responsável por isso é Bruce, um policial (que ela soube que era da polícia somente depois de um tempo) que tem quase o dobro da idade dela. Eles logo se apaixonam e começam a viver um romance de constantes altos e baixos. O conflito entre o mundo dos dois é que gera estes obstáculos, fazendo com que cada um deles tenha que lidar com o melhor e o pior de si para que consigam continuar juntos. Ao revelar a Audrey seu trabalho e seu propósito na vida dela, Bruce dá início a um dos conflitos entre eles, sucedido por um convite dele à garota para que o ajude em uma missão investigativa. A partir daí a trama começa a ganhar rumos e desdobramentos surpreendentes, mexendo com o psicológico de ambos, mudando o mundo de cada um deles e das pessoas que amam. O restante cabe a você desvendar… E tenha certeza: vale muito a pena.
Desvendando Ella Faith
O trabalho de Ella é tão amplo e marcante que seria difícil resumir esta primeira obra dela sob a marca Vírtua em poucos parágrafos. Por isso, transcrevo abaixo entrevista concedida pela escritora a mim, Rafael Augusto Machado, jornalista e proprietário da Editora Vírtua, na tarde de sexta, 12 de fevereiro. Confira:
RAFAEL AUGUSTO MACHADO – Quando você começou a escrever e o que te inspirou?
ELLA FAITH – Comecei a escrever fanfics ainda na infância, mas somente adulta resolvi escrever um romance original. Iniciei a série Incondicional há dois anos. Eu me inspirei em outros romances eróticos, mas em todos eles me sentia frustrada com a personagem feminina principal. Nos livros que eu li, parece existir um padrão onde a figura feminina é submissa e muito pacata em relação aos personagens masculinos. Nos meus romances eu quis mudar isso, trazendo personagens femininas que têm mais atitude, são rebeldes e com histórias que remetem a ação e mistério.
R A M – Quais os estilos literários que você mais gosta de ler? Na sua avaliação, de que forma eles influenciaram teu estilo de escrever?
E F – Gosto de ler suspenses, romances eróticos, dark romances, ficção cientifica e distopias. Estilos que me influenciam, principalmente, no quesito romance. Eu não preciso ler exatamente um romance para gostar da obra, mas para que qualquer livro se torne interessante, para mim, deve conter relações românticas entre os personagens.
R A M – Quais livros você já escreveu? Como foi a receptividade de cada um junto ao público?
E F – Escrevi a trilogia Incondicional: 1. Algemas; 2. Cordas; 3. Laços, e o romance Doutor Benny. As pessoas relataram que a série Incondicional é envolvente, por conter não só o elemento erótico, mas também uma história repleta de mistério, ação e ‘plots twists’. Todos disseram que a história é forte e que contém elementos que podem revirar o estômago do início ao fim. Eles vinham me perguntar: ‘quando esse sofrimento vai acabar?’; e eu respondia: ‘calma, que fica pior’. Não é para qualquer um! Quanto às partes boas, algumas pessoas ficaram com vergonha de contar logo de cara, mas entre um drink e outro admitiram que as cenas quentes as deixaram animadinhas… Quanto ao Doutor Benny, disseram que também contém situações pesadas, mas é menos explícito e mais romântico.
R A M – Falando sobre “Incondicional: algemas”, de onde veio a inspiração para criar os personagens e a história?
E F – Me inspirei na obra francesa Largo Winch, uma HQ que virou filme. Trata-se de um herdeiro de um império de uma multinacional. No caso de Incondicional, quis trazer uma herdeira, personagem feminina. Os personagens masculinos foram uma junção de perfis policiais e criminosos…
R A M – Trata-se de uma obra atemporal e sem local definido, o que facilita para que o leitor adapte a narrativa a seu imaginário, encaixando-a em seu tempo e em seu “local imaginário”. Tivestes esta intenção desde o início ou chegaste, em algum momento, a cogitar escrever a história em um tempo e lugar definidos?
E F – A ideia inicial foi deixar para o imaginário, porque achei que assim eu teria uma abertura maior do público. Uma pessoa de qualquer estado ou país pode ler e se imaginar em uma praia que conhece e já esteve, por exemplo. No final, eu não aguentei e acabei dando uma pista sobre onde os personagens realmente estão…
R A M – O que há de comum entre você, a autora, e Audrey, a personagem principal, em termos de sonhos, expectativas e características gerais?
E F – Eu sou baixinha, de cabelos e olhos castanhos e nunca me senti representada nos livros ou no cinema. No geral, o que vejo são personagens altas, atléticas, de olhos coloridos. Acredito que o tipo físico poderia se assemelhar. Eu quis representar este tipo, genérico e muito negligenciado. Diria que só temos isso em comum. A Audrey é bem rebelde e muitas vezes imprudente. Eu sou, sem dúvida nenhuma, muito mais cautelosa e sempre prevejo onde quero chegar. A Audrey vai deixando a vida levar… A única coisa que faríamos parecido, talvez, se eu fosse bilionária e tivesse a influência dela, seria irritar alguns políticos por aí…
R A M – A história chama a atenção por ser muito completa em termos de enredo e rica em detalhes. Como foi seu processo criativo? Como estruturaste tudo isso: personagens, lugares, fatos…
E F – Enquanto eu escrevo é como se eu meditasse, entrasse em transe. Preciso estar sentindo a emoção que vou descrever. Em alguns momentos eu escrevia e quando relia pensava: isso não me causa nada, está fraco, sem emoção, sem graça. E voltava e começava de novo até sentir que tinha impacto. A questão dos fatos, do mistério e da ação foi mais difícil de escrever, parece mais técnico, por isso acho que tenho mais facilidade nas cenas de romance e drama.
R A M – Outro fato interessante é como retratas de forma detalhada e muito próxima a que se pode vivenciar o universo jovem e adolescente, mesmo que este mude de tempos em tempos. Em que te inspiraste para fazer esta descrição?
E F – Eu criei um sistema psíquico para a personagem, me coloquei no lugar dela e fiquei pensando: como uma pessoa que cresceu como ela reagiria? Como ela trabalharia seus traumas e seu passado? Ela enfrentaria de frente, negaria ou fugiria? A partir daí me baseei no comportamento da protagonista.
R A M – Embora o gênero, a tônica e o conteúdo da obra girem em torno do erótico, soubeste muito bem, ao longo do livro, mesclar estes trechos mais “picantes” com passagens que retratam mistérios, desejos, sonhos, de maneira a deixar o texto completo e versátil. Como trabalhaste estas técnicas para chegar a este resultado?
E F – Acredito que alguns livros eróticos se tornem enfadonhos por não saírem da relação do casal e as cenas às vezes não saírem do quarto. Eu não quis isso. Quis trazer vida e movimento, e também outras emoções. Quero que o leitor viva uma montanha russa de sentimentos e que afora a questão erótica conheça uma história por trás.
R A M – Chama a atenção a liberdade linguística que usas no texto, usando de “palavrões”, termos sexuais e tocando em alguns tabus… Em minha opinião como leitor, isto deu mais brilho à narrativa e demonstrou liberdade de escrita por parte da autora. Na sua opinião, em geral, o meio literário sabe explorar isto, ou ainda mantém-se preso a padrões sociais?
E F – O meio literário ainda é muito quadrado! Embora tenhamos textos quentes por aí, eles são muito parecidos entre si. Acredito que os próprios escritores tenham medo de ousar por medo de serem julgados. Mas se formos analisar as obras mais famosas, elas fizeram sucesso por tocarem em tabus. Parece-me que a sociedade no geral pensa que não deve-se escrever sobre tabus, querendo escondê-los, como se isso fizesse sumirem as coisas ruins que acontecem por aí. Acontece que, escrevendo ou não, elas continuam acontecendo, como o abuso, o incesto, relações tóxicas, machismo, coisas assim. Acredito que a arte não deve incentivar esse tipo de coisa, mas ela está aí sim para expor, para nos fazer pensar, discutir e crescer enquanto sociedade. Acho engraçado como um livro pode chocar as pessoas, mas o cinema e as séries de televisão que são muito violentas, não. E o que falar dos sites pornôs?
R A M – Ao longo do texto, tocas em assuntos como adoção, corrupção, influências políticas e favorecimento da mídia em favor de determinados personagens. Todos de maneira sensata e detalhada. Estudastes estes assuntos ou eles vieram à tua mente de forma natural durante o processo criativo?
E F – Me influenciei muito por acontecimentos políticos reais. Personas que se safaram e ainda se safam até hoje no Brasil…
R A M – Voltando à questão dos tabus, um dos quais você aborda é o relacionamento entre homem e mulher com grande diferença de idade, desmistificando-o e deixando claro que, na prática, trata-se de apenas um entre tantos padrões impostos pela sociedade. Acreditas que, de certa forma, os leitores perceberão que não faz sentido haver preconceito em um relacionamento entre pessoas com grande diferença de idade, uma vez que, ao desenrolar da história, o leitor acaba identificando-se com Bruce e Audrey?
E F – Penso que no início da história muitos podem achar a relação horrível, não só por conta da diferença de idade, mas porque acontece por meio de mentiras. Podem ficar com raiva dos personagens, mas depois, no desenrolar, podem sim se identificar e até torcer pela relação dar certo, podendo até mesmo deixar esses preconceitos de lado…
R A M – O que podes sinalizar de dicas sobre a continuação da história? O que deve acontecer entre Bruce e Audrey? Entrarão novos personagens nesta história?
E F – O Bruce e a Audrey vão ter uma relação de idas e vindas até o final. Um personagem importante do primeiro livro também vai se envolver com a Audrey, mas isso não vai afastar o Bruce… Os dois outros livros não vão ser mais fáceis de ler, ainda vai ter muita violência e a Audrey vai continuar fazendo umas escolhas erradas. Mas pode esperar um final feliz pra ela e respostas para todos os acontecimentos do primeiro livro.
R A M – Quais teus planos para novas publicações?
E F – No momento, tenho “Incondicional: Algemas” publicado em livro físico e as outras obras em ebook. Pretendo ter todas em papel. E estou escrevendo um novo romance, sem data de término, denominado ‘Em suas mãos no meu Subspace’.